A Casa Branca e a oposição republicana chegaram a um acordo, em princípio, para elevar o teto do endividamento do governo e evitar o que seria um potencialmente catastrófico calote da dívida da maior economia do mundo. As negociações chegaram a um desfecho depois de semanas de dúvidas sobre a disposição dos dois lados em ceder em um tema que periodicamente assombra os governantes nos Estados Unidos.
A votação deve ocorrer na quarta-feira, mas o caminho até lá, apesar do acerto, promete ser espinhoso. Segundo o New York Times, a proposta tem dois pontos centrais. O primeiro, que era o mais importante para o governo de Joe Biden, diz respeito à elevação em si do teto do endividamento público por dois anos. O teto, que foi acionado pela primeira vez em 1917, é um limite para a quantia total de dinheiro que os EUA estão autorizados a pegar emprestado para financiar o governo e cumprir suas obrigações financeiras.
Este ano, o limite de endividamento, de US$ 31 trilhões (R$ 153 trilhões), foi atingido em 19 de janeiro, e desde então o governo tem feito manobras extraordinárias para manter os pagamentos em dia, mas essa ferramenta também tem uma “validade”, que seria atingida no dia 5 de junho.
Depois disso, despesas essenciais do Estado americano e até compromissos internacionais poderiam deixar de ser honrados, jogando a economia dos EUA (e do resto do mundo) em um cenário perigoso. Mas para garantir o apoio republicano à elevação do teto, Biden, segundo o New York Times, precisou ceder, e concordou com o congelamento da expansão dos gastos do governo por dois anos, justamente quando a Casa Branca planejava expandir esses investimentos — a exigência de realizar cortes nos gastos era um dos pontos que vinha travando as conversas.
Historicamente, o Partido Republicano se opõe à elevação de despesas públicas, e costuma fazer jogo duro com presidentes democratas sem maioria nas duas Casas do Congresso, como é o caso agora. Mas vencida a primeira parte, a de chegar a um acordo, vem a segunda parte do plano, que também pode ser complicada para Joe Biden para os próprios republicanos.
Apesar das concessões de ambos os lados, há vozes descontentes com o formato que deve ser o final do plano. A começar pelos democratas. Vozes da ala progressista do partido devem se levantar contra a proposta para congelar os gastos do governo, questionando se isso vai afetar os planos de Biden para fortalecer a economia americana, avançar em questões como o clima e ações sociais, e até em ações no exterior, como o bilionário apoio à Ucrânia, que enfrenta a invasão das tropas russas desde o ano passado.
Rivais: Biden diz que teria sorte se Trump fosse candidato nas eleições de 2024 Pelo lado republicano, havia uma forte pressão sobre o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, para que buscasse cortes mais ousados no orçamento federal. Segundo o New York Times, citando fontes na oposição, a versão atual do plano deve enfrentar oposição de parlamentares mais à direita e que têm na austeridade fiscal bandeiras importantes de seus mandatos.
O senador Mike Lee, de Utah, disse ao New York Times que usaria todas as ferramentas para atrasar propostas que, em sua visão, não tragam mudanças fiscais palpáveis. “Os republicanos precisam manter suas posições e ficar atentos a qualquer reforma do Ato para Limitar, Economizar e Crescer, sem permitir que essas reformas sejam abandonadas ou abrandadas por conta de um ‘acordo’ com Biden”, escreveu em um artigo o deputado Chip Roy, se referindo a uma medida aprovada pelos republicanos em abril que elevava o teto da dívida, mas impunha severos cortes ao orçamento do governo federal.
Na época, Biden prometeu vetar a medida. Pouco antes do acordo ser firmado, Biden e McCarthy conversaram por telefone para afinar os últimos detalhes — o presidente também manteve diálogo com lideranças democratas do Senado e da Câmara.
McCarthy quer pautar o acordo na quarta-feira, e tem afirmado nos bastidores que não espera dificuldades para obter os votos necessários. No Twitter, o republicano, um dos mais vocais críticos do governo Biden, manteve o tom agressivo mesmo ao anunciar o acordo. “Acabei de conversar por telefone com o presidente. Depois de ele ter gastado tempo e se recusado a negociar por meses, chegamos a um acordo em princípio que é válido para o povo americano”, escreveu McCarthy.
Minutos depois, em pronunciamento, afirmou que os republicanos “estão prestes a realizar mudanças grandes e com consequências em Washington”, e que o plano para limitar os gastos tem como objetivo “parar com a gastança inconsequente dos democratas”.