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Alemanha tem mais um dia de protestos contra extrema direita

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Atos pró-democracia em Berlim e Munique reúnem cerca de 100 mil manifestantes cada. Ao todo no fim de semana, 1,4 milhão saíram às ruas em mais de cem cidades alemãs, estimam organizadores. A Alemanha teve mais um dia de intensos protestos neste domingo (21/01), quando centenas de milhares de pessoas saíram às ruas em várias cidades do país em defesa da democracia e em repúdio ao extremismo de direita e sua agenda anti-imigração.

A nova onda de manifestações, que ocorrem já desde a semana anterior, veio em resposta a uma reunião secreta realizada por membros do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) com neonazistas para discutir um plano para deportar milhões de estrangeiros.

Somente entra sexta-feira e este domingo, registraram-se atos em mais de 100 cidades alemãs. Organizadores estimaram a presença de mais de 1,4 milhão de pessoas ao todo, em atos que enviaram um “sinal contra a AfD e a tendência à direita na sociedade alemã”.

Neste domingo, manifestações ocorreram em grandes cidades como Berlim, Munique e Colônia, e em outras menores, incluindo Dresden, Cottbus e Chemnitz, no leste da Alemanha, onde a ultradireita costuma ter mais apoio.

100 mil em Berlim, 100 mil em Munique

Em Munique, o número de manifestantes foi tão grande que os organizadores foram forçados a cancelar uma marcha programada e pedir aos presentes que se dispersassem por razões de segurança.

Segundo a polícia local, cerca de 100 mil compareceram ao protesto na capital da Baviera, um número quatro vezes maior do que o registrado para o evento. Os organizadores, por sua vez, estimaram a presença de 200 mil pessoas.

Em Berlim, outros 100 mil saíram às ruas contra a extrema direita, segundo estimativas da polícia divulgadas pela emissora regional RBB. Os manifestantes se concentraram em frente à sede do Bundestag (Parlamento alemão), carregando cartazes com frases como “Contra a direita” e “Não há lugar para nazistas”.

“É bom que algo finalmente esteja acontecendo, que a maioria silenciosa não esteja mais tão silenciosa”, disse uma manifestante, Lydia Steffenhagen, à agência de notícias AFP em Berlim.

Em Colônia, os organizadores estimaram que 70 mil pessoas se juntaram ao protesto. Em Bremen, o ato reuniu 45 mil manifestantes, segundo números da polícia.

Em Dresden, capital do estado da Saxônia, onde a AfD lidera as pesquisas para as eleições regionais, as autoridades tiveram que alterar o rumo de uma marcha devido ao grande comparecimento. Segundo a polícia, o ato foi prolongado para dar espaço a um “enorme número de participantes”.

Protestos no fim de semana

No sábado, protestos em cidades como Frankfurt, Hannover e Nurembergue já haviam reunido ao todo cerca de 250 mil manifestantes, que carregavam faixas com frases como “Somos diversos” e “Votar na AfD é tão 1933”, referindo-se ao ano em que o ditador nazista Adolf Hitler tomou poder na Alemanha.

Já na sexta-feira, transcorreu uma grande manifestação em Hamburgo, que teve que ser interrompida mais cedo após reunir muito mais gente do que o esperado. A polícia estimou a presença de 50 mil, enquanto organizadores falam de 80 mil, frisando que o número seria maior se a manifestação não tivesse sido encerrada antes de muitos conseguirem chegar.

Por que tantos protestam agora?

A reunião secreta realizada por membros da AfD gerou indignação em todo o país quando veio à tona há mais de dez dias. Ela ocorreu em Potsdam em novembro e teria incluído ainda políticos da União Democrata Cristã (CDU), partido da ex-chanceler federal Angela Merkel, hoje a maior sigla da oposição.

O caso foi revelado primeiramente pelo site de jornalismo investigativo Correctiv, e depois confirmado pela AfD em 10 de janeiro. A legenda, contudo, nega quaisquer planos de adotar tal proposta e afirma que não se tratava de um evento partidário.

A reportagem informou que, durante a reunião, um líder extremista austríaco, Martin Sellner, apresentou um plano para expulsar da Alemanha milhões de requerentes de refúgio e imigrantes, incluindo aqueles com cidadania alemã que não se integraram no país.

No encontro, discutiu-se a chamada “remigração”, um termo frequentemente usado nos círculos de extrema direita como um eufemismo para a expulsão de imigrantes e minorias, incluindo alemães naturalizados.

O caso chocou muitos na Alemanha, num momento em que a AfD está em alta nas pesquisas eleitorais antes de três grandes eleições regionais no Leste do país.

A reação de políticos alemães

O chanceler federal Olaf Scholz – que no fim de semana anterior compareceu a um protesto ao lado da ministra do Exterior, Annalena Baerbock – disse que qualquer plano de deportar estrangeiros representa um “ataque contra a democracia e, por sua vez, contra todos nós”.

Scholz ainda apelou aos alemães “para que tomem uma posição – pela coesão, pela tolerância, pela nossa Alemanha democrática”.

A ministra do Interior, Nancy Faeser, atentou para o fato de que a reunião secreta ocorreu num hotel em Potsdam, perto de onde o partido nazista, em 20 de janeiro de 1942 – 82 anos atrás – coordenou a chamada “Solução Final” e discutiu o assassinato sistemático de milhões de judeus na Europa.

“Isso involuntariamente traz de volta memórias da terrível Conferência de Wannsee”, declarou a ministra ao grupo de mídia Funke no sábado.

Faeser destacou que não tem intenção de comparar os dois eventos, mas disse ser importante deixar claro que “o que está escondido por trás de termos que parecem inofensivos como ‘remigração’ é a ideia de expulsar e deportar pessoas em massa devido à sua origem étnica ou suas opiniões políticas.”

Na Renânia do Norte-Vestfália, o estado mais populoso da Alemanha, o governador Hendrik Wüst, da CDU, fez um apelo por uma “aliança de centro” entre todos os partidos e níveis de governo.

“Precisamos que os democratas estejam unidos”, afirmou ele, chamando a AfD de um “perigoso partido nazi” que não se baseia na Constituição alemã.

Friedrich Merz, líder da CDU, disse ser “muito encorajador que milhares se manifestem pacificamente contra o extremismo de direita”. Ele não comentou o fato de que membros de seu partido estiveram presentes na reunião de Potsdam.

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